O Tarô é uma ferramenta milenar repleta de simbolismos e significados profundos, e duas das versões mais influentes são o Tarô de Thoth, criado por Aleister Crowley e Lady Frieda Harris, e o Rider-Waite, desenvolvido por Arthur Edward Waite e Pamela Colman Smith. Embora compartilhem raízes comuns, essas duas abordagens apresentam diferenças marcantes em suas representações simbólicas, desde as ilustrações até as interpretações dos arcanos.
Neste post, exploraremos as principais mudanças nos símbolos entre esses dois sistemas, destacando como cada um reflete sua própria filosofia e intenção. Se você já se perguntou por que certas cartas parecem tão distintas ou como essas variações afetam as leituras, acompanhe esta análise detalhada para desvendar os mistérios por trás desses dois clássicos do Tarô.
As Diferenças nos Arcanos Maiores
Uma das distinções mais evidentes entre o Tarô de Thoth e o Rider-Waite está nos Arcanos Maiores. Enquanto o Rider-Waite mantém uma abordagem mais tradicional, com narrativas visuais claras e acessíveis, o Thoth incorpora elementos da cabala, astrologia e alquimia, resultando em imagens mais abstratas e carregadas de ocultismo.
O Mago (I) e O Mago (I)
No Rider-Waite, O Mago é retratado como uma figura ativa, com os quatro naipes do Tarô dispostos sobre uma mesa, simbolizando domínio sobre os elementos. Já no Thoth, a carta é chamada de “O Mago” (ou “O Mago”), mas sua representação é mais complexa: ele aparece como uma figura andrógina cercada por símbolos alquímicos e planetários, refletindo a influência de Hermes Trismegisto e a conexão com o divino.
A Papisa (II) e A Sacerdotisa (II)
No Rider-Waite, A Sacerdotisa é uma figura serena, sentada entre duas colunas (Boaz e Jachin), com um livro fechado no colo. Já no Thoth, ela é representada como “A Sacerdotisa”, mas com um visual mais místico, incorporando referências à Lua e à sabedoria oculta. A ausência de um livro e a presença de símbolos lunares destacam sua ligação com o inconsciente e os mistérios não revelados.
A Imperatriz (III) e A Imperatriz (III)
Enquanto no Rider-Waite A Imperatriz é uma figura maternal, associada à fertilidade e à abundância da natureza, no Thoth, ela ganha um tom mais cósmico. Sua versão incorpora símbolos de Vênus e uma aura de criação divina, alinhando-se à visão de Crowley sobre o feminino como uma força criativa universal.
Os Naipes e os Arcanos Menores
Outra diferença crucial está nos Arcanos Menores. O Rider-Waite popularizou ilustrações narrativas para cada carta, enquanto o Thoth optou por um estilo mais abstrato, com padrões geométricos e cores vibrantes que transmitem significados através da psicologia das cores e da simbologia oculta.
- Paus (Wands): No Rider-Waite, as cenas mostram ações e conflitos, enquanto no Thoth, as cartas são dominadas por cores quentes e formas dinâmicas, representando energia pura.
- Copas (Cups): O Rider-Waite explora emoções em cenários cotidianos, enquanto o Thoth usa tons de azul e símbolos fluidos para expressar o fluxo emocional e espiritual.
- Espadas (Swords): No Rider-Waite, há cenas de desafios e dor, enquanto no Thoth, as espadas são retratadas como raios cortantes, simbolizando o intelecto e a discórdia.
- Ouros (Disks no Thoth): O Rider-Waite foca em riqueza material, já o Thoth (chamado de “Discos”) conecta-se à Terra e à manifestação física, usando símbolos astrológicos e geométricos.
Essas diferenças não são apenas estéticas, mas refletem filosofias distintas: o Rider-Waite busca uma abordagem mais intuitiva e narrativa, enquanto o Thoth mergulha em camadas ocultistas e psicológicas.
A Influência da Cabala e da Astrologia no Tarô de Thoth
Uma das características mais marcantes do Tarô de Thoth é sua profunda integração com a Cabala e a Astrologia, elementos que o diferenciam radicalmente do Rider-Waite. Enquanto o último se baseia em uma estrutura mais cristianizada e acessível, o Thoth reflete a visão hermética de Aleister Crowley, onde cada carta é um portal para sistemas complexos de conhecimento oculto.
A Roda da Fortuna (X) e Fortune (X)
No Rider-Waite, a Roda da Fortuna mostra uma roda giratória com figuras subindo e descendo, simbolizando os ciclos da vida. Já no Thoth, a carta é simplesmente chamada de “Fortune” e apresenta uma roda decorada com símbolos alquímicos e criaturas mitológicas, como a Esfinge e o deus Hórus. A ênfase está na lei cósmica de causa e efeito, alinhada ao conceito de Thelema de Crowley.
O Enforcado (XII) e O Enforcado (XII)
Enquanto no Rider-Waite O Enforcado é uma figura pendurada por um pé, transmitindo sacrifício e nova perspectiva, no Thoth, a carta ganha um tom mais alquímico. O personagem está imerso em um líquido, representando a dissolução do ego e a transformação espiritual, com raízes no simbolismo do solve et coagula.
As Cartas da Corte: Figuras Arquetípicas Reinterpretadas
As cartas da corte no Tarô de Thoth também sofrem mudanças significativas em relação ao Rider-Waite. Crowley substitui os nomes tradicionais (Pajem, Cavaleiro, Rainha, Rei) por termos como Princesa, Príncipe, Rainha e Cavaleiro, refletindo uma estrutura hierárquica inspirada na Cabala e na astrologia.
- Princesa: Representa o elemento Terra em cada naipe, associada à materialização e ao início de ciclos.
- Príncipe: Simboliza o Ar, ligado ao intelecto e à ação, diferindo do Cavaleiro do Rider-Waite, que é mais focado em movimento físico.
- Rainha: Mantém a conexão com a água, mas no Thoth, ela é uma figura mais passiva e receptiva, quase como uma sacerdotisa do elemento.
- Cavaleiro: No Thoth, corresponde ao Fogo, sendo uma força de energia bruta e impulso criativo, enquanto no Rider-Waite está mais associado à velocidade e mudança.
Cores e Geometria: A Linguagem Visual do Thoth
O Tarô de Thoth utiliza cores e formas geométricas de maneira intencional, seguindo os princípios da psicologia das cores e da arte sagrada. Diferente do Rider-Waite, que prioriza cenas reconhecíveis, o Thoth emprega:
- Cores vibrantes: Tons de roxo e dourado para o espiritual, vermelhos intensos para a paixão e energia, azuis profundos para o mistério.
- Formas abstratas: Hexagramas, triângulos e fluxos orgânicos que representam forças cósmicas, em contraste com o traço figurativo do Rider-Waite.
- Simbologia oculta: Inscrições em hebraico, sigilos planetários e referências à Árvore da Vida
Conclusão: Dois Caminhos, Um Mistério
O Tarô de Thoth e o Rider-Waite, embora compartilhem a mesma essência divinatória, são como duas línguas distintas para decifrar os enigmas da existência. Enquanto o Rider-Waite se destaca por sua abordagem narrativa e acessível, ideal para iniciantes e leituras intuitivas, o Thoth mergulha nas profundezas do ocultismo, exigindo do intérprete familiaridade com cabala, astrologia e alquimia. As diferenças nos símbolos – desde os traços figurativos até a explosão de cores e geometrias sagradas – não são meramente estéticas, mas espelham filosofias opostas: uma voltada à prática cotidiana, outra à transcendência hermética.
Qual dos dois é “melhor”? A resposta reside na busca pessoal. Se você anseia por clareza e contos arquetípicos, o Rider-Waite será seu guia. Mas se deseja explorar as camadas invisíveis da psique e do cosmos, o Thoth aguarda como um grimório vivo. No fim, ambos provam que o Tarô, em sua pluralidade, permanece um espelho infinito – refletindo não apenas o que somos, mas o que podemos nos tornar.