O Tarô é uma ferramenta ancestral repleta de simbolismos, e suas diferentes versões carregam nuances únicas que refletem tradições e interpretações distintas. Entre os mais conhecidos, o Tarô de Marselha e o Rider-Waite se destacam não apenas por sua popularidade, mas também pelas diferenças marcantes em suas representações visuais e significados simbólicos. Enquanto o primeiro é enraizado na tradição europeia e prioriza elementos mais abstratos, o segundo introduz ilustrações narrativas detalhadas, influenciando profundamente a leitura moderna do Tarô.
Neste post, exploraremos as diferenças simbólicas entre esses dois baralhos, analisando desde os arcanos maiores até os detalhes iconográficos que os distinguem. Se você já se perguntou por que certas cartas transmitem energias distintas dependendo do deck utilizado, esta análise oferecerá insights valiosos para ampliar sua compreensão do Tarô.
Arcanos Maiores: Tradição versus Narrativa
Uma das diferenças mais marcantes entre o Tarô de Marselha e o Rider-Waite está na representação dos Arcanos Maiores. Enquanto o primeiro segue uma abordagem mais tradicional e minimalista, o segundo introduz cenas ricas em detalhes simbólicos, quase como pequenas histórias visuais.
O Mago: Simplicidade versus Ação
No Tarô de Marselha, o Mago é retratado de forma mais estática, com um personagem diante de uma mesa que exibe os quatro naipes do tarô (copas, espadas, ouros e paus). Sua postura é hierática, e o simbolismo é transmitido principalmente pelos objetos presentes, sem uma narrativa clara ação.
Já no Rider-Waite, o Mago ganha dinamismo: ele está em pé, com uma mão apontando para o céu e outra para a terra, simbolizando a conexão entre o espiritual e o material. A mesa exibe os mesmos naipes, mas agora integrados a uma cena que sugere movimento e poder ativo, reforçando a ideia de manifestação.
A Papisa e a Sacerdotisa: Mistério versus Sabedoria Oculta
No Tarô de Marselha, a Papisa (ou Papisa Joanina) aparece sentada, vestindo trajes religiosos e segurando um livro, muitas vezes com um véu que reforça seu caráter enigmático. A ênfase está no conhecimento reservado e no mistério da fé.
No Rider-Waite, rebatizada como A Sacerdotisa, ela ganha elementos adicionais, como as colunas de Boaz e Jachin (símbolos maçônicos), a lua sob seus pés e um rolo da Torá parcialmente visível. Esses detalhes ampliam seu significado, conectando-a não apenas ao sagrado, mas também à sabedoria esotérica e à intuição.
A Roda da Fortuna: Abstração versus Alegoria
No Tarô de Marselha, a Roda da Fortuna é representada de maneira mais abstrata, com uma roda central ladeada por figuras simbólicas (muitas vezes um homem subindo, outro caindo e um terceiro no topo). A ausência de cenário detalhado convida à interpretação intuitiva.
Já no Rider-Waite, a cena é repleta de elementos alegóricos: anjos, criaturas mitológicas e símbolos alquímicos rodeiam a roda, enquanto letras hebraicas e figuras zodiacais podem ser observadas. Essa riqueza visual transforma a carta em uma narrativa sobre os ciclos do destino e a influência de forças superiores.
Essas diferenças mostram como o Tarô de Marselha prioriza um simbolismo mais aberto à interpretação pessoal, enquanto o Rider-Waite busca guiar o leitor por meio de imagens narrativas carregadas de referências ocultistas.
Arcanos Menores: Simbolismo Minimalista versus Riqueza de Detalhes
Enquanto os Arcanos Maiores apresentam diferenças marcantes entre os dois baralhos, os Arcanos Menores também divergem significativamente. O Tarô de Marselha mantém uma abordagem mais simples, quase abstrata, enquanto o Rider-Waite introduz cenas ilustradas que ampliam o significado de cada carta.
Os Naipes: Representação Visual Distinta
No Tarô de Marselha, os Arcanos Menores são compostos por cartas numeradas que exibem apenas o número correspondente de símbolos do naipe (como espadas, copas, paus ou ouros), sem figuras humanas ou cenários complexos. Por exemplo, o Dois de Copas mostra apenas duas taças, sem contexto adicional. Essa simplicidade exige que o intérprete confie mais em sua intuição e conhecimento tradicional.
Já no Rider-Waite, cada carta dos Arcanos Menores é uma ilustração completa, com personagens, ações e ambientes que transmitem mensagens claras. O Dois de Copas, por exemplo, mostra duas pessoas trocando taças em um gesto de harmonia e conexão emocional, reforçando temas como parceria e reciprocidade.
As Figuras da Corte: Hierarquia versus Personalidade
No Tarô de Marselha, as cartas da corte (Rei, Rainha, Cavaleiro e Valete) são representadas de maneira estilizada, com posturas fixas e poucos elementos narrativos. O foco está na hierarquia e nos trajes que simbolizam seus papéis, sem muita individualização.
No Rider-Waite, essas mesmas figuras ganham personalidade e contexto. O Cavaleiro de Espadas, por exemplo, não é apenas um homem a cavalo—ele é retratado em pleno movimento, com sua espada erguida, simbolizando ação rápida e decisão. Essa abordagem facilita a associação com arquétipos e situações específicas durante a leitura.
Influências Históricas e Esotéricas
As diferenças entre os dois baralhos não são apenas estéticas—elas refletem contextos históricos e correntes esotéricas distintas. O Tarô de Marselha tem raízes na tradição medieval europeia, com influências cristãs e simbolismo mais universal. Suas imagens foram padronizadas ao longo dos séculos, mantendo um estilo que prioriza a essência sobre a narrativa.
Já o Rider-Waite, criado no início do século XX, foi profundamente influenciado pela Ordem Hermética da Aurora Dourada, uma sociedade ocultista que integrava elementos da cabala, astrologia e alquimia em seus ensinamentos. Pamela Colman Smith, a artista responsável pelas ilustrações, incorporou esses conceitos de maneira visual, tornando o baralho uma ferramenta didática para estudantes do esoterismo ocidental.
Cores e Símbolos Ocultos
Outro aspecto relevante é o uso das cores. Enquanto o Tarô de Marselha emprega tons mais sóbrios e limitados (devido às técnicas de impressão da época), o Rider-Waite utiliza uma paleta vibrante, onde cada cor carrega um significado específico—o vermelho para paixão e ação, o azul para espiritualidade, o amarelo para intelecto, etc.
Além disso, o Rider-Waite está repleto de símbolos discretos, como pequenas estrelas, flores e inscrições, que muitas vezes passam despercebidos em uma primeira olhada, mas acrescentam camadas de interpretação. Já o Tarô de Marselha</
Conclusão: Dois Caminhos para o Simbolismo
O Tarô de Marselha e o Rider-Waite, embora compartilhem a mesma essência divinatória, oferecem abordagens distintas para o simbolismo e a interpretação. Enquanto o primeiro convida a uma leitura mais intuitiva e aberta, com sua estilização minimalista e raízes tradicionais, o segundo se destaca pela riqueza narrativa e pela influência esotérica, guiando o consulente por meio de imagens detalhadas e referências ocultistas.
Essas diferenças não tornam um baralho superior ao outro—pelo contrário, elas ampliam as possibilidades de conexão com o Tarô. Seja pela simplicidade enigmática do Tarô de Marselha ou pela profundidade ilustrada do Rider-Waite, cada deck oferece um caminho único para explorar os arquétipos, os ciclos da vida e os mistérios do inconsciente. A escolha entre eles dependerá da sintonia do leitor com suas linguagens visuais e daquilo que busca em sua jornada de autoconhecimento e reflexão.
No fim, ambos os baralhos reforçam a mesma verdade: o Tarô é um espelho, e suas imagens—sejam simples ou complexas—sempre refletem as perguntas e as respostas que já carregamos dentro de nós.