O Tarô Visconti-Sforza é um dos mais antigos e icônicos baralhos de tarô que sobreviveram ao tempo, remontando ao século XV na Itália. Criado para a nobreza milanesa, este conjunto de cartas não apenas servia como entretenimento, mas também como um reflexo da cultura, da espiritualidade e do poder político da época. Suas imagens ricamente detalhadas e seu simbolismo intrincado continuam a fascinar estudiosos e entusiastas do ocultismo até os dias atuais.
Além de sua beleza artística, o Tarô Visconti-Sforza carrega uma profunda camada de significados, representando arquétipos universais e narrativas que transcendem o período em que foi criado. Cada carta é uma janela para o pensamento renascentista, misturando elementos da filosofia, da religião e da astrologia. Neste post, exploraremos a história por trás desse tesouro histórico e desvendaremos os símbolos ocultos que o tornam uma peça fundamental no estudo do tarô.
Origens e Contexto Histórico
O Tarô Visconti-Sforza foi encomendado por membros da poderosa família Visconti, que governava Milão no século XV, possivelmente como um presente para celebrar o casamento entre Bianca Maria Visconti e Francesco Sforza em 1441. Esse baralho é considerado um dos primeiros exemplares completos de tarô, criado em uma época em que as cartas eram objetos de luxo, destinados à nobreza e à elite intelectual.
Produzido por artistas renascentistas, o baralho reflete a estética e os valores da corte milanesa, combinando influências do cristianismo medieval com elementos da filosofia humanista que começava a florescer na Itália. As cartas eram pintadas à mão, muitas vezes com o uso de ouro e prata, demonstrando a riqueza e o prestígio de seus donos.
O Simbolismo nas Cartas
Cada lâmina do Tarô Visconti-Sforza é repleta de alegorias e referências à cultura da época. Alguns dos símbolos mais marcantes incluem:
- O Imperador e a Imperatriz – Representando não apenas figuras de autoridade, mas também a dualidade entre o poder terreno e a influência divina.
- A Roda da Fortuna – Um lembrete da natureza cíclica da vida e da instabilidade do destino, tema comum na filosofia medieval.
- O Ermitão – Simbolizando a busca pelo conhecimento interior e a sabedoria espiritual.
Muitas dessas imagens foram inspiradas por textos clássicos, como a Bíblia, os escritos de Dante Alighieri e até mesmo tratados de astrologia, mostrando como o tarô era uma síntese do pensamento da época.
Influência no Ocultismo Moderno
Apesar de ter sido criado como um jogo de cartas para a nobreza, o Tarô Visconti-Sforza tornou-se uma peça-chave no desenvolvimento do tarô divinatório. Séculos depois, ocultistas como Eliphas Lévi e A.E. Waite estudaram suas imagens, reinterpretando seus símbolos e integrando-os em sistemas esotéricos mais complexos.
Hoje, reproduções desse baralho são usadas tanto por colecionadores quanto por tarólogos que buscam uma conexão com as raízes históricas da prática. Sua arte e seu simbolismo continuam a inspirar novas gerações, provando que o legado do Tarô Visconti-Sforza permanece vivo.
As Cartas do Tarô Visconti-Sforza e Seus Significados
O Tarô Visconti-Sforza é composto por 78 cartas, divididas em Arcanos Maiores e Arcanos Menores, seguindo a estrutura tradicional dos baralhos de tarô. No entanto, sua iconografia é única, refletindo os valores e as crenças da aristocracia renascentista. Algumas cartas apresentam variações significativas em relação às versões modernas, oferecendo um vislumbre de como o simbolismo do tarô evoluiu ao longo dos séculos.
Arcanos Maiores: Figuras de Poder e Sabedoria
Os Arcanos Maiores do Tarô Visconti-Sforza são particularmente notáveis por sua riqueza visual e profundidade simbólica. Diferentemente de baralhos posteriores, algumas cartas possuem nomes distintos ou representações incomuns:
- O Papa (Hierofante) – Enquanto em versões modernas essa carta representa a tradição religiosa, no Visconti-Sforza, ela pode ser associada diretamente à autoridade eclesiástica da época, refletindo a estreita relação entre a Igreja e o poder nobiliárquico.
- A Temperança – Mostrada como uma figura feminina derramando líquido entre dois recipientes, simboliza o equilíbrio e a moderação, valores essenciais na filosofia humanista.
- A Torre – Diferente das representações dramáticas posteriores, no Visconti-Sforza, essa carta pode aparecer como uma estrutura estável, sugerindo uma interpretação menos catastrófica e mais ligada à fortaleza e à proteção.
Arcanos Menores: A Vida Cotidiana e a Corte
Os Arcanos Menores do baralho também são ricos em detalhes, retratando cenas da vida nobre, como caçadas, banquetes e torneios. Os naipes – Espadas, Copas, Ouros e Paus – seguem o padrão italiano e estão associados a diferentes aspectos da sociedade:
- Espadas – Representam a justiça, o conflito e a intelectualidade, muitas vezes ilustradas com cenas de batalhas ou decisões judiciais.
- Copas – Simbolizam o amor, a espiritualidade e as emoções, frequentemente retratadas em contextos religiosos ou românticos.
- Ouros – Associados à riqueza, ao comércio e ao poder material, refletindo a prosperidade da corte milanesa.
- Paus – Ligados à vitalidade, à agricultura e ao crescimento, mostrando cenas rurais e atividades ligadas à terra.
O Legado Artístico do Tarô Visconti-Sforza
Além de seu significado esotérico, o Tarô Visconti-Sforza é uma obra-prima da arte renascentista. As cartas foram criadas com técnicas de pintura em têmpera e folhas de ouro, características da produção artística de luxo da época. Muitas delas apresentam trajes detalhados, paisagens elaboradas e elementos heráldicos que revelam a identidade das famílias Visconti e Sforza.
Várias versões do baralho sobreviveram ao tempo, sendo as mais conhecidas aquelas preservadas na Biblioteca Morgan (Nova York) e na Accademia Carrara (Bergamo). Esses exemplares são estudados não apenas por tarólogos, mas também por historiadores da arte, que analisam suas técnicas e influências estilísticas.
O Tarô Visconti-Sforza na Cultura Contemporânea</h
Conclusão: Um Tesouro que Transcende o Tempo
O Tarô Visconti-Sforza é muito mais do que um simples baralho – é um testemunho vivo da cultura, da espiritualidade e da arte do Renascimento italiano. Suas imagens, carregadas de simbolismo, continuam a ecoar através dos séculos, inspirando tanto estudiosos quanto praticantes do ocultismo. Ao explorar suas cartas, mergulhamos não apenas na história da família Visconti-Sforza, mas também nos arquétipos universais que ainda hoje falam ao ser humano.
Seja como objeto de estudo histórico, ferramenta de introspecção ou obra de arte admirável, o Tarô Visconti-Sforza mantém seu lugar como um dos mais importantes legados da tradição do tarô. Sua influência perdura, provando que a beleza e a sabedoria contidas em suas lâminas são verdadeiramente atemporais.