Os baralhos afro-brasileiros trazem uma riqueza simbólica única, unindo a espiritualidade dos orixás aos arquétipos universais do tarô. Essa fusão não apenas enriquece a prática divinatória, mas também celebra a cultura e os saberes ancestrais das tradições africanas, oferecendo um caminho profundo de autoconhecimento e conexão com o sagrado.
Neste post, exploraremos como os orixás se manifestam nos arcanos do tarô, revelando narrativas poderosas que refletem aspectos da vida humana e da natureza. Seja você um estudioso da cartomancia ou um curioso sobre as tradições afro-brasileiras, essa jornada promete insights valiosos sobre como esses baralhos podem iluminar caminhos e desvendar mistérios.
Orixás e os Arcanos Maiores: Uma Correspondência Sagrada
Os Arcanos Maiores do tarô representam jornadas arquetípicas, e muitos baralhos afro-brasileiros associam essas cartas aos orixás, divindades que personificam forças da natureza e aspectos da condição humana. Essa conexão não é aleatória: tanto os orixás quanto os arcanos falam sobre transformação, desafios e potenciais espirituais.
Exemplos de Correspondências
- Oxalá e O Imperador: Assim como o arcano O Imperador representa autoridade, estrutura e sabedoria, Oxalá é o criador, a figura paternal que rege a ordem e a justiça.
- Iansã e A Temperança: Embora Iansã seja associada ao vento e à mudança brusca, sua energia também se relaciona com o equilíbrio entre ação e intuição, assim como A Temperança no tarô.
- Ogum e O Carro: Ogum, orixá da guerra e do ferro, encontra paralelo em O Carro, que simboliza vitória, determinação e superação de obstáculos.
Essas associações variam conforme a tradição e o baralho utilizado, mas todas reforçam a ideia de que os orixás podem ser guias espirituais nas leituras, oferecendo orientação específica conforme suas áreas de influência.
Os Arcanos Menores e os Elementos da Natureza
Assim como o tarô tradicional associa os naipes aos elementos (terra, ar, fogo e água), os baralhos afro-brasileiros muitas vezes vinculam esses símbolos às energias dos orixás:
- Paus (Fogo): Ligado a Xangô e Iansã, representando ação, paixão e transformação.
- Copas (Água): Relacionado a Oxum e Iemanjá, simbolizando emoção, intuição e cura.
- Espadas (Ar): Conectado a Oxóssi e Ogum, refletindo intelecto, estratégia e conflito.
- Ouros (Terra): Associado a Omulu e Nanã, representando prosperidade, estabilidade e ancestralidade.
Essa abordagem permite uma leitura mais ancestral e contextualizada, onde os elementos não são apenas forças abstratas, mas manifestações vivas dos orixás no cotidiano.
Tarô Afro-Brasileiro na Prática: Como os Orixás Influenciam as Leituras
Incorporar os orixás nas leituras de tarô vai além da simples correspondência simbólica. Essa abordagem exige um entendimento mais profundo das energias e mitos associados a cada divindade, permitindo que o consulente receba mensagens mais precisas e culturalmente enraizadas. Um puxão de cartas pode, por exemplo, revelar não apenas um desafio, mas qual orixá está atuando naquela situação e como honrá-lo para alcançar equilíbrio.
Rituais e Preparação para a Leitura
Muitos praticantes do tarô afro-brasileiro recomendam certos cuidados antes de iniciar uma leitura, como:
- Banimento energético: Acender uma vela para Exu, orixá mensageiro, para abrir os caminhos e garantir clareza.
- Oferendas simbólicas: Colocar um copo d’água ou grãos na mesa em homenagem aos ancestrais e orixás regentes.
- Invocação dos guias: Pedir permissão e orientação aos orixás relacionados às cartas que forem surgir.
Esses rituais não são obrigatórios, mas ajudam a criar uma conexão mais forte entre o consulente, o tarô e as energias dos orixás, tornando a leitura mais potente e significativa.
Baralhos Afro-Brasileiros Mais Conhecidos
Existem diversas versões de tarô e oráculos que incorporam os orixás, cada um com sua própria linguagem visual e interpretativa. Alguns dos mais utilizados são:
- Tarô dos Orixás (de Pierre Verger e outros autores): Um dos mais tradicionais, com ilustrações que mesclam simbolismo iorubá e iconografia clássica do tarô.
- Baralho Cigano dos Orixás: Combina a sabedoria dos orixás com a cartomancia cigana, trazendo uma abordagem mais direta e cotidiana.
- Oráculo dos Orixás (de Adriana Camargo): Focado nas divindades africanas, com mensagens inspiradas nos itans (mitos) de cada orixá.
Cada baralho tem sua vibração única, e a escolha depende tanto da familiaridade com os orixás quanto do tipo de orientação que se busca — se mais espiritual, prática ou mitológica.
Como Escolher o Baralho Ideal?
Para quem está começando, vale observar:
- Conexão intuitiva: Algumas imagens ou símbolos podem “chamar” mais que outros.
- Fonte e pesquisa: Prefira baralhos feitos em colaboração com estudiosos das religiões afro-brasileiras para evitar apropriação cultural.
- Objetivo da leitura: Baralhos mais narrativos (como o de Verger) são ótimos para autoconhecimento, enquanto oráculos simplificados podem ser melhores para respostas rápidas.
Conclusão: O Sagrado e o Simbólico nos Baralhos Afro-Brasileiros
Os baralhos afro-brasileiros, ao unirem a sabedoria dos orixás aos arquétipos do tarô, oferecem muito mais que um método divinatório — são uma ponte entre o humano e o divino, entre a tradição e a intuição. Cada carta, impregnada com a energia de um orixá, convida a uma jornada de autoconhecimento que honra raízes ancestrais enquanto ilumina caminhos futuros. Seja através das narrativas dos Arcanos Maiores ou da fluidez dos elementos nos Arcanos Menores, esses baralhos nos lembram que a espiritualidade é viva, dinâmica e profundamente conectada à nossa existência cotidiana.
Para quem se aventura nessa prática, a chave está no respeito e na abertura para aprender não apenas com as cartas, mas com a cultura que as sustenta. Que os orixás, como guias e espelhos, possam inspirar leituras mais conscientes, rituais mais significativos e, acima de tudo, um diálogo constante com as forças que moldam nosso destino e nossa essência.